Nos últimos meses, três novas pragas agrícolas foram detectadas no Brasil. São dois insetos e uma planta daninha. Elas danificam plantações de soja, milho e algodão, podendo causar perdas de até 91% da safra. Especialistas afirmam que para erradicar invasores, é preciso reforçar a defesa fitossanitária.
Não há como comprovar como elas entraram no país, mas a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) já alerta há algum tempo para os riscos de contaminação e disseminação de ácaros, insetos, fungos, vírus e bactériasatravés de estrangeiros que chegam ao Brasil para eventos esportivos como a Copa do Mundo e Olimpíadas, que acontecerão em 2016 no Rio de Janeiro.
Segundo um estudo encomendado pela entidade junto a Agropec, só no campeonato de futebol que aconteceu ano passado, mais de 350 pragas inexistentes no Brasil poderiam chegar pelos turistas. Regina Sugayama, autora da pesquisa, disse à época da Copa do Mundo que o trânsito de pessoas nos últimos anos tem facilitado essa troca biológica entre países. Entre 1901 e 2014, 68 espécies de pragas exóticas foram detectadas no Brasil – 20 delas somente nos últimos dez anos. “Às vésperas de grandes eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada é preciso reforçar a atenção em nossas fronteiras e aeroportos”, aconselha a Sugayama.
Faltando menos de um ano para as Olimpíadas, vale o alerta. Eduardo Daher, diretor executivo da Andef, cita o exemplo chinês, país que foi invadido por organismos danosos àagricultura sete anos atrás. “Apenas como referência, no período da Olimpíada de Pequim, em 2008, foram introduzidas 44 novas pragas na China. Na cidade do Rio de Janeiro, que é sede dos jogos, 205 países, 10 mil atletas e mais de 1 milhão de turistas chegarão para o evento”, conta.
Veja quais são as três pragas para ficar em alerta:
1 – Melanagromyza sp Também conhecida como mosca-da-haste da soja, foi detectada pela primeira vez no Rio Grande do Sul. A origem mais provável é que tenha vindo da Argentina e Paraguai, países que já estão amplamente contaminados e são fronteira com o Estado brasileiro. É uma praga importante da Austrália, onde causa perdas de até 30% na produção de grãos.
O Brasil ainda dá pouca atenção para a praga. “É preciso mais agilidade. Paraguai e Argentina poderão fazer o controle da Melanagromyza mais facilmente, pois terão produtos disponíveis para o combate mais rapidamente. Eles já estão testando produtos. No Brasil, a burocracia deve retardar a chegada desses produtos”, afirma Jerson Guedes, pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria.
2- Helicoverpa punctigera Prima da famosa Helicoverpa armigera, essa variação da lagarta também é agressiva e causa expressivos danos na produtividade na escala de até 16 sacas por hectare de soja, 54 sacas na cultura do milho e até 76 sacas no algodão. Foi identificada no Ceará.
3- Amaranthus palmeri A erva daninha é velha conhecida dos produtores norte-americanos de soja e algodão e já preocupa cotonicultoresbrasileiros. As perdas, no caso do milho, pode chegar a 91% da safra. Na soja, pode destruir 79% e 77% no algodão. Foi identificada no Brasil há alguns meses, no Mato Grosso.
Ela chama a atenção por ser bastante resistente a herbicidas, não apresentando nenhum sintoma de fitotoxicidade após as aplicações do produto.